Estou chocada. Embora a violência esteja se banalizando ao
ponto de nós não nos impressionarmos mais a cada novo caso, quando você deixa
de se concentrar no lanchinho que está fazendo na segurança da sua casa
enquanto vê o noticiário e passa a focar no que acontece ao seu redor, consegue
enxergar a dimensão da coisa. Vi essa notícia (cujo link segue abaixo e você
precisa ler) e não quis acreditar. Apenas vamos dar uma imaginada em toda a
situação: Você gasta mais da metade da sua vida estudando e, um dia, finalmente
consegue seu espaço como profissional. Nem vive de luxo, não, tem o suficiente
para sustentar a si mesmo e a sua família. Um belo dia, está lá dando duro para
garantir sua sobrevivência quando, de repente, alguém que fez outras escolhas
(que passam longe de enfiar a cara nos livros e se esforçar para ser uma pessoa
digna) resolve entrar na sua vida e tentar te tirar tudo aquilo que você
conquistou, ou boa parte. Como aqui no Brasil, na maioria dos casos, quem
trabalha muito não vive nadando em dinheiro, você não tem lá milhões na conta
bancária. E, adivinha só: a criatura, não satisfeita em tomar para si algo que
não lhe pertence (simplesmente porque não foi dela o suor derramado), também se
acha no direito de te tirar A VIDA. Como uma forma de te punir por você não ser
tão bem sucedido e cheio da grana quanto imaginaram antes de te assaltar. É
desumano. Eu me pergunto onde vamos parar. Temos medo de ter sucesso, temos
medo de nos dar bem na vida e mostrar isso ao mundo porque, a qualquer momento,
alguém que nós nunca vimos pode decidir querer nosso dinheiro e vir atrás de
nós. E tirar nossas vidas, por pedaços de papel (dinheiro). Como a sociedade
pode ver algo assim e achar normal? Ver milhares de casos como esses e pensar
'é só mais um' e não dar a mínima? Como chegamos ao ponto de deixar que uma
pessoa tire a vida de outra quando bem entender e saia impune? Não podemos nos
calar. Marília R. Trindade
"[...]
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
[...]"
("No Caminho com Maiakóvski", do poeta brasileiro
Eduardo Alves da Costa - vale a pena lê-lo por completo).
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